Adam Silver é um comissário inovador, que trouxe regras para a NBA tornar-se mais atrativa para o público em geral. Apesar de parecerem soluções para muitos casos, algumas ideias podem atrapalhar o principal propósito de tudo: o jogo.
Silver viu o monstro que criou tomar forma no último fim de semana. Ele pretendia utilizar a volta da disputa por Conferências no All-Star Game para atrair mais o público. Afinal, desde 2017, a liga vinha utilizando o sistema de capitães, que misturavam os times em um sistema similar ao Draft. Até aí, tudo bem.
Mas ao promover o que já era entendido como uma festa, uma celebração da temporada, Adam Silver fez com que jogadores tivessem a mesma noção. Ou seja, em quadra no All-Star Weekend, tudo é brincadeira. No entanto, ao entregar o prêmio de MVP a Damian Lillard, ficou nítida a cara de quem fez coisa errada.
“Então, para os All-Stars da Conferência Leste, vocês que marcaram mais pontos. Bem… Parabéns”, afirmou Adam Silver.
Claro, tem a ver com o que os jogadores foram fazer lá. Eles entenderam que era festa, que era uma brincadeira e virou isso: 200 pontos em um jogo, com 168 arremessos de três.
O All-Star Weekend teve bons momentos, entretanto. Sabrina Ionescu x Stephen Curry, o Torneio de Três Pontos e o Desafio dos Calouros foram realmente bons. Mas parou por aí.
Público enganado
Então, o que fazer para que o público não se sinta enganado? Porque as pessoas foram lá querendo ver um jogo. Sentiram vergonha alheia.
Mas aqui não vamos ficar especulando o que pode ser feito, pois muita gente já o fez nos últimos dias. Brian Windhorst, da ESPN, já indicou o caminho: dinheiro.
O que quero mostrar aqui é que não é apenas o All-Star Game que pode estar em perigo, mas a NBA em si.
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É óbvio que Adam Silver tem seus acertos, como a adição do play-in nas regras da NBA, mas algumas coisas não estão ajudando. O fato de ele incentivar os placares altos, as cestas de três pontos, faz com que os números cresçam. Como resultado, a NBA tem um aumento inacreditável na pontuação, jogadores batem recordes e o público, especialmente fora dos EUA, se interessa por tais feitos.
Tudo normal, pois gera mais dinheiro. Ainda mais que a audiência no país vem caindo, então a ideia de tentar vender o seu produto para o mercado estrangeiro é válida. Basta ver o quanto a NBA expandiu comercialmente no exterior e o resultado disso é que os cinco últimos premiados no MVP são jogadores de fora dos EUA. Foram duas vezes com Giannis Antetokounmpo, outras duas com Nikola Jokic e, por fim, Joel Embiid venceu em 2022/23.
E se você observar bem, outros estrangeiros estão no topo: Luka Doncic e Shai Gilgeous-Alexander, enquanto Victor Wembanyama apareceu no último Draft como a nova sensação.
Então, sim. A NBA é cada vez mais global.
Mas quando Adam Silver aprova tudo o que estava acontecendo antes do episódio lamentável dos 200 pontos, ele não pode culpar apenas os jogadores. Ele quis o ambiente de festa, ele quer placares altos e o resultado foi o que todo mundo viu.
Agora, ele vai precisar pagar aos jogadores para que eles se interessem em vencer. É simples, prático e tenta resgatar a competitividade, embora seja um jogo festivo.
Mudanças nas regras?
Durante as entrevistas de jogadores no Media Day do All-Star Game, uma coisa pareceu certa: eles gostam de como está. Não para o evento em si, mas para a liga. Mas teve quem defendesse mudanças.
Jaylen Brown, por exemplo, falou sobre a ausência total das defesas na NBA. Para o astro do Boston Celtics, ninguém defende e nem é possível defender com as atuais regras. E ele foi mais ou menos na linha de Dejounte Murray, que reclamou sobre o assunto há algumas semanas.
Mas a maioria acredita que está tudo bem, está tudo certo.
Malik Beasley, que disputou o Torneio de Três Pontos, falou que a culpa é de quem não defende bem. Por outro lado, Luka Doncic afirmou que existe muita defesa na NBA e não é necessária uma mudança de regras por parte de Adam Silver.
Ou seja, alguns atletas apostam na ideia de que o problema não está na defesa, mas na qualidade ofensiva dos atuais jogadores.
Apesar de a qualidade realmente estar melhor (em arremessos), falta muita coisa.
Desde que o hand check foi banido da NBA (2004), a defesa piorou. O hand check nada mais é do que o defensor poder encostar no jogador que está com a bola. Hoje, enquanto o que está atacando sofrer um toque em qualquer parte do corpo, exceto na mão que está na bola, a falta acontece imediatamente.
O que é estranho, mas são regras, né?
Hand check de volta?
Veja bem. A NBA mudou suas regras para que as pontuações subissem. Para quem não lembra, nos anos 90 e início da década seguinte, os placares eram realmente baixos. Na decisão de 2004, por exemplo, durante os cinco jogos, só um teve um time com 100 pontos, quando o Detroit Pistons bateu o Los Angeles Lakers por 100 a 87 e ficou com o título.
Então, no ano seguinte, os placares foram ainda mais baixos. Na série entre San Antonio Spurs e Pistons, o time texano venceu por 4 a 3. O último jogo teve o Spurs vencendo por 84 a 71.
As críticas eram enormes, apesar de a regra mudar. Imprensa, torcida, todo mundo reclamava do jogo, especialmente dos finalistas.
Havia muita competitividade, mas com menos posse de bola.
A pontuação em decisões aumentou, mas nada absurdo. Times venciam fazendo 100 pontos. Mas a partir de 2017, a coisa mudou.
Os ataques ficaram mais rápidos, gastando cada vez menos tempo para um arremesso. A aposta no jogo de transição, espaçamento e isolation ficou muito evidente. A partir do momento em que as equipes entenderam que o caminho mais curto para a vitória era atacar de forma rápida, todo o resto da liga aderiu.
Ou seja, ninguém mais joga buscando o melhor passe como prioridade, gastando o tempo e as pernas do oponente. Para quem não sabe, defender cansa muito mais do que atacar. Coisa básica.
Então, por mais que a NBA entenda que o hand check tenha que voltar, os times vão continuar arremessando de longe e no menor tempo possível.
Adam Silver
O comissário criou a ideia de quanto mais pontos, melhor para o bolso. Seja da NBA, dos jogadores ou de quem esteja envolvido. Isso porque o mercado dos EUA saturou. Não tem para onde expandir, não existem caminhos curtos para uma mudança.
Está na mentalidade que os jogadores e os times implementaram e no que Silver estimula.
Mas por que os placares caem nos playoffs?
Bem, aí é mais uma questão cultural e da arbitragem.
Sempre houve aquele papo de que nos playoffs, os árbitros ficam mais exigentes. Então, não é qualquer lance que é considerado falta. E com os desafios, ainda mais nos mata-matas, os técnicos ficam com receio de perderem um tempo que pode ser crucial no fim de um jogo.
Assim, os critérios acabam mudando. Mas dá para fazer a temporada regular como nos playoffs?
Aí é um grande problema. Até hoje, após mais de 75 edições, isso não mudou. A não ser que Adam Silver faça mais mudanças nas regras, a NBA está em um caminho sem volta.
A temporada regular vai continuar com placares altíssimos, times vão arremessar 50 bolas de três por jogo, faltas serão marcadas por um simples toque e vamos continuar reclamando.
Então, é só esperar os playoffs. É o que tem para hoje.
Evolução dos pontos
Temporada | Pontos | Ritmo* | 3P por jogo** | Eficiência*** |
---|---|---|---|---|
2023/24 | 115.5 | 99.1 | 35.0 | 115.9 |
2022/23 | 114.7 | 99.2 | 34.2 | 114.8 |
2021/22 | 110.6 | 98.2 | 35.2 | 112.0 |
2013/14 | 101.0 | 93.9 | 21.5 | 106.6 |
2004/05**** | 97.2 | 90.9 | 15.8 | 106.1 |
* posses por 48 minutos
** tentativas por jogo
*** por 100 posses de bola
*** fim do hand check
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