Donovan Mitchell desabafa sobre racismo em Utah: “Foi exaustivo”

Ex-astro do Jazz reconhece que, em certo momento, hostilidade racial da cidade deixou-o perturbado

donovan mitchell racismo utah Fonte: Melissa Majchrzak / AFP

Donovan Mitchell foi um ícone do Utah Jazz por anos, mas, ao mesmo tempo, viu o racismo contra outras pessoas negras de perto. Ele viveu a dualidade de ser uma referência esportiva em uma sociedade majoritariamente branca e reacionária. A oportunidade de jogar pelo Cleveland Cavaliers, então, veio no momento ideal. Não só para a sua carreira, mas também para o seu coração e consciência.

“Jogar em uma cidade majoritariamente negra é reconfortante para mim. Não vou mentir sobre isso, pois tive que enfrentar muita coisa em Utah fora de quadra. Foi exaustivo. A minha energia foi drenada porque você não pode torcer para mim no ginásio e, depois, comportar-se daquele modo no dia-a-dia. Não foram todos, mas muitos eram assim”, desabafou o astro, em entrevista ao site Andscape.

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O estado em que Mitchell atuava, de certa forma, representa uma parcela razoável de um país conservador. O senado norte-americano acabou de reforçar a proteção não só ao casamento de pessoas do mesmo sexo, mas também interracial. É uma pauta anacrônica ainda passível de discussão nos EUA, por incrível que pareça. O ala-armador via a segregação velada da sociedade em cada um dos seus jogos.

“Não ver muitas pessoas como eu no ginásio era muito difícil, por exemplo. Fiz o meu melhor tentando convidar os jovens negros para jogos e, mais do que isso, serem parte da comunidade. Mas não vê-los lá era duro. Aqui em Cleveland, por outro lado, eles estão à beira da quadra. É uma benção, certamente, poder estar cercado de pessoas como eu”, reconheceu o cestinha do Cavaliers.

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Ataques

Donovan Mitchell, diante da situação, tornou-se uma voz ativa em Utah contra o racismo. Ele trabalhou junto a instituições sociais do estado e, assim, assumiu o papel de um embaixador local pela igualdade. “Comprou”, como resultado, uma briga pública com o senador republicano Stuart Adams. Quanto mais falava, ele mais percebia que estava em um local que poderia ser bastante hostil.

“Eu comecei a ser mais atacado por isso enquanto estávamos na ‘bolha’. Diversas pessoas falavam que não sabia do que estava falando, pois há injustiça em todos os lugares e com todas as pessoas. ‘Não são só os negros’, diziam. E essa gente não tinha ideia de nada, na verdade. Senti que conseguia encarar isso, mas, em algum momento, tornou-se demais”, lembrou o três vezes all-star.

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Mitchell sente que, assim que decidiu começar a falar, entrou em um caminho sem volta. A hostilidade cresceu e, com isso, seu amor pelo estado ficou abalado. “Foi uma coisa atrás da outra, desde aquele momento. Ouvi um senador dizer que eu precisava ser educado sobre a história do meu povo, por exemplo. Defender um mundo igual e receber tantas críticas tornou-se demais para mim”, lamentou.

E se não fosse eu?

O status como jogador de basquete manteve o ex-jogador do Jazz protegido dos episódios de racismo ao seu redor. No entanto, obviamente, ele não era capaz de ignorá-los e fazer de conta que não existiam. É impossível, certamente, fazer isso. Afinal, e se não fosse o Donovan Mitchell naquela situação? Os possíveis cenários atormentavam a cabeça de um dos principais jovens talentos da NBA.

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“Eu fui parado por um policial uma vez e a sua atitude antes e depois de mostrar a minha identificação marcou-me. Afinal, nunca parei de imaginar o que aconteceria com um jovem negro sem o meu status. Alguém que não tivesse a minha força de afirmação e dizer quem era. Foi uma daquelas coisas que, por fim, levei em meu coração até hoje”, revelou o craque, atormentado pelas possibilidades.

No entanto, os casos que atormentam Mitchell foram muitos outros. Aqueles que envolvem crianças, em particular, também povoam a sua mente até hoje. “Eu vi crianças negras sofrerem bullying por causa da dor de sua pele. Vi uma menina negra, Isabella, enforcar-se porque era hostilizada na escola. É muita coisa para qualquer pessoa aguentar e seguir em frente”, encerrou o astro de 26 anos.

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