Por Henrique Lima
Caro leitor do Jumper Brasil, durante esse tempo de quarentena (espero que você e seus familiares estejam bem), andei pensando sobre alguns temas curiosos sobre a NBA em que nunca me aprofundei. Essa pausa serviu para que tirasse um tempo e fizesse estudos sobre isso. Convido-os a acompanhar essa série, em que começarei discutindo a média de idade dos times finalistas e campeões da liga nos últimos 40 anos.
Eis uma dúvida que sempre esteve em minha cabeça, especialmente quando surge alguma equipe cheia de jovens talentos que já é tida com possibilidades de título: afinal, qual é a idade de um time campeão?
Talvez, por assistir à NBA há 25 anos, eu rejeito esse tipo de indicação precoce de candidatos ao título. Contenders, habitualmente, são um produto do tempo e meu argumento é que, em termos de vitórias e conquistas, estamos discutindo uma liga de veteranos. “A NBA é dos velhos”, como sempre digo.
Como consequência desse argumento, eu resolvi colher dados e verificar se era só uma percepção errada ou existia certo fundamento. Coletei os dados dos finalistas de cada temporada – ou seja, as duas franquias que poderiam ser campeãs – nos últimos 40 anos. Achei prudente esse recorte temporal porque, além do número “redondo”, quase coincide com a chegada do arremesso de três pontos à liga.
Então, vamos lá!
Primeiramente, vale lembrar que o time é mais do que cinco titulares. É diferente do futebol, inclusive, pelo volume de substituições e como reservas têm a chance de impactar o jogo constantemente. Os titulares são só uma referência, mas nem sempre são aqueles que terminam a partida. Aqui, vamos tratar o quinteto inicial pela sigla Q.I.
O sexto-homem (6.H.) é, como todos sabem, um “furo” nessa noção de titular. É o atleta que mais tem minutos saindo do banco de reservas, pode jogar mais tempo do que membros do quinteto inicial e até terminar as partidas em quadra. Antes de Manu Ginobili e Lou Williams, vale lembrar, grandes jogadores como Kevin McHale, Michael Cooper e Toni Kukoc exerceram a função.
E temos o grupo como um todo, o elenco. Aqui, eu vou representar essa ideia de plantel com todos os jogadores de rotação que atuaram mais do que 12 minutos por partida – ou seja, um quarto de um jogo da NBA. Isso não é tão pouca coisa quanto pode parecer quando vemos astros que ficam em quadra por 36 ou 40 minutos por noite.
A primeira coisa que vamos analisar é a média de idade dos finalistas entre 1980 e 2019. E, sim, o número é muito alto. Aqueles que gostam de projetos futuros com prospectos irão se decepcionar bastante: nesse intervalo, os quintetos titulares dos campeões da NBA tinham 28.6 anos de idade. Esse parece ser o “número mágico” para seu elenco ser campeão.
Isso quer dizer que um freshman de universidade selecionado no draft precisa viver quase uma década de carreira, em média, para conquistar um título. É um longo caminho, viu!
Para ter uma ideia do quanto essa média é alta, apenas três elencos da temporada atual atingem ou ultrapassam esse valor: Lakers (29.6 anos), Bucks (29.2 anos) e Rockets (29.1 anos). E, se levarmos em conta só os quintetos titulares desse trio, seus números conseguem subir (ainda) mais: Bucks (29.4 anos), Rockets (30.0 anos) e Lakers (30.8 anos).
Será uma coincidência que Lakers e Bucks, em especial, são líderes de conferência e fortes candidatos ao título dessa temporada? Parece que não.
Você, leitor, pode questionar que o intervalo de idade pode ser muito grande de time para time e a variação de outras décadas, do passado, podem influenciar a visão do que acontece hoje em dia. Podem surgir várias questões – e todas são justas. Por isso, os dados de média de idade separados por década de quintetos iniciais, sexto-homens e elenco (atletas com mais de 12 minutos) estão detalhados na tabela a seguir.
Campeões |
Média de Idade | ||
Década | Q.I. | 6.H. |
Jog. > 12 min. Publicidade
|
2010 – 2019 |
28,6 | 29,1 | 28,9 |
2000 – 2009 Publicidade
|
27,9 | 28,3 |
28,8 |
1990 – 1999 | 29,9 | 29,4 |
29,3 Publicidade
|
1980 – 1989 |
28,0 | 28,2 |
28,2 Publicidade
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Na década atual, na verdade, a média de idade aumenta conforme adicionamos os jogadores de rotação na conta. Muito disso ocorreu graças a equipes recheadas de veteranos que foram campeões como Los Angeles Lakers (2010), Dallas Mavericks (2011), Miami Heat (2012 e 2013) e San Antonio Spurs (2014) – todos na primeira metade da década.
Você ainda pode questionar se o intervalo de dez anos não é grande demais. Afinal, o basquete praticado em 1980 seria muito diferente de 1989 e, em três dessas décadas, nós tivemos uma redistribuição de atletas da liga por meio de drafts de expansão que trouxeram novos times. Dessa forma, aqui os mesmos dados estão separados por retratos de cinco anos.
Campeões |
Média de Idade | ||
Intervalo de 5 anos | Q.I. | 6.H. |
Jog. > 12 min Publicidade
|
2015 – 2019 |
27,7 | 28,2 | 28,2 |
2010 – 2014 | 29,4 | 30,1 |
29,5 Publicidade
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2005 – 2009 |
27,6 | 28,3 | 28,9 |
2000 – 2004 | 28,3 | 28,3 |
28,6 Publicidade
|
1995 – 1999 |
31,0 | 30,7 | 30,5 |
1990 – 1994 | 28,8 | 28,2 |
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|
1985 – 1989 |
28,2 | 28,7 | 29,2 |
1980 – 1984 | 27,7 | 27,7 |
27,2 Publicidade
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Percebemos, nesse último levantamento, que a média de idade dos campeões – em especial, dos quintetos iniciais – caiu na metade final dos anos 2010 em relação à primeira metade. O mais interessante é notar como esse padrão é um retorno ao período entre 1980 e 1984, quando tivemos as equipes mais jovens campeãs em todo o intervalo de tempo pesquisado.
Então, para essa primeira parte da análise, algumas conclusões que podemos tirar são:
- A média de idade dos quintetos iniciais campeões da NBA nos últimos 40 anos é bem alta: 28.6 anos de idade, mais precisamente;
- As maiores médias de idade aconteceram na década de 1990;
- Por sinal, a média de idade do período entre 1995 e 1999 é a mais alta já vista em campeões na liga. É a única em que os três cenários estudados (quintetos iniciais, sexto-homens e elenco) ultrapassam a marca dos 30 anos;
- Os cinco últimos anos só não produziram campeões mais jovens, em média, do que os cinco primeiros anos da década de 1980. Isso pode até simbolizar uma tendência, mas, a julgar pelo andamento histórico, tende a ser só uma distorção pontual.
Sobre Henrique Lima
Formado em educação física pela Universidade Federal de Viçosa e treinador de basquete nível I pela Escola Nacional de Treinadores de Basquete. Treinou equipes de várias categorias da modalidade em Minas Gerais. É consultor do Jumper Brasil há mais de uma década, além de ter sido repórter, editor e colunista de sites e blogs de basquete. Acompanhe-o no instagram: @hicks_basket.