Por Lucas Torres, da Central do Draft
Na noite desse domingo (27), a maior parte da comunidade do basquete brasileiro foi surpreendida com a notícia de que o país teria no armador Caio Pacheco, de 21 anos, um representante no Draft de 2020 da NBA.
Diferente do ala-armador Didi, que, antes de ser escolhido na 35ª posição da seleção do ano passado, havia ganhado notoriedade nacional pelas performances pela equipe de Franca no NBB, Caio esteve distante dos holofotes do torcedor brasileiro nos dois últimos anos ao seguir uma trajetória um tanto peculiar.
Nascido na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo, o armador passou pela equipe de seu município natal, além de Limeira e Palmeiras, durante sua trajetória nas categorias de base. Há dois anos, no entanto, topou o desafio de atuar em solo argentino – assinando contrato com o Bahía Blanca. Logo em sua primeira temporada, Pacheco recebeu oportunidades importantes na equipe principal do novo clube – atuando em 19 partidas, com uma média de 21 minutos por jogo.
O papel relevante em uma liga de referência como a de nossos hermanos o impulsionou a ser convocado para a disputa do sulamericano sub-21 pela seleção brasileira comandada pelo treinador Léo Figueiró – onde formou excitante dupla de armadores ao lado do baixinho Yago, do Paulistano, e se sagrou campeão do torneio.
Na última temporada, sua segunda com o Bahía Blanca, o armador brasileiro deixou o status de jovem que se ‘habituava ao novo país’ para se tornar um dos principais destaques do basquete argentino.
Mesmo atuando como titular em apenas cinco das 21 partidas que disputou, Pacheco foi o cestinha da competição com média de 19.4 pontos (45.3% de aproveitamento nos arremessos de quadra) e teve impacto também como criador de jogadas ao distribuir média de 6.0 assistências.
https://www.youtube.com/watch?v=q2N2pOxzrCc
Estilo de jogo
Em entrevista concedida à Agência Brasil, em março de 2020, Pacheco apontou Facundo Campazzo (Real Madrid) e Trae Young (Atlanta Hawks) como dois armadores que lhe servem como fonte de inspiração.
Apesar de ainda estar longe de ambos no quesito bola de três pontos, é possível ver traços da dupla no estilo agressivo e contemporâneo com que Pacheco atua. Tudo o que o brasileiro faz em quadra é ‘em modo de ataque’.
Forte fisicamente para a posição, ele tem sua melhor versão quando partindo ‘ladeira abaixo’ em direção à cesta – cenário em que usa a habilidade de finalizar bandejas com ambas as mãos, bem como de iniciar e absorver contato para ir à linha do lance-livre com muita frequência (média de 6.9 tentativas por jogo em 19-20).
É a partir dessa ameaça constante de suas infiltrações que Pacheco ‘libera’ seu jogo de passe, mostrando muita maturidade e visão de jogo para reagir ao comportamento da defesa adversária e encontrar companheiros livres nas situações em que atrai a ajuda.
Tal como Young e Campazzo, o brasileiro ‘ataca para pontuar’, força a defesa a reagir e aí sim toma suas decisões entre passe ou arremesso.
O próximo passo de seu jogo é se tornar mais consistente nos arremessos de perímetro – onde mostrou ‘flashes’ daquilo que pode vir a se tornar com um tremendo salto, em 19-20, em relação à seu primeiro ano no Bahía Blanca.
Depois de converter apenas 18% de uma média de 3.2 tentativas de três pontos no ano passado, Pacheco saltou para um aproveitamento de 28.8%, com 4.5 tentativas longas por jogo nesta temporada.
Mais importante que os números frios, porém, é a maneira com que o armador brasileiro tem ‘tirado’ seus arremessos – mostrando bom trabalho de pernas e equilíbrio para arremessar pullups em trocas contra jogadores mais pesados e/ou cenários em que seu defensor opta por ir ‘para baixo’ do corta-luz, bem como não hesitando em deixar a bola voar a dois ou três passos da linha dos três pontos, mostrando aquilo que os americanos chamam de NBA Range.
Na defesa, Pacheco compete com a mesma fisicalidade com que ataca o aro e tem mostrado entendimento tático acima da média para a idade na defesa coletiva. Seus 1,87m de altura, no entanto, é fator limitador de sua versatilidade defensiva – projetando-o como alguém que dificilmente será capaz de defender alas-armadores mais tradicionais na NBA.
https://www.youtube.com/watch?v=mcaGka0I6vE
O Draft
A inscrição de Caio Pacheco no Draft de 2020 surpreendeu boa parte dos scouters dos Estados Unidos – que o projetavam como um nome esperado para a seleção de 2021. Talvez por isso, ele nem sequer figure no respeitado ‘Top 100 disponível’ de Jonathan Givony, da ESPN.
Por esse fator ‘inesperado’, é difícil – à essa altura – projetar as chances do brasileiro de figurar nas 60 primeiras escolhas do Draft, mas é certo que sua combinação de perfil físico e experiência internacional tende a torná-lo mais atrativo para as franquias da NBA do que armadores que têm tido seus nomes ventilados no final da segunda rodada, tais como Markus Howard (Marquette) e Tyrell Terry (Stanford).