O Draft 2018 foi realizado na última quinta-feira (21) e não nos reservou muitas surpresas, tampouco um número considerável de negociações. Aliás, nenhum jogador da NBA foi envolvido em troca durante o recrutamento. Cinco das sete primeiras escolhas foram jogadores de garrafão, evidenciando a qualidade dos pivôs da classe deste ano.
Como esperado, o Phoenix Suns, dono da primeira escolha, selecionou o pivô Deandre Ayton, da Universidade de Arizona. Na segunda escolha, o Sacramento Kings selecionou o ala-pivô Marvin Bagley. Até então, tudo conforme previa o roteiro pré-Draft.
A partir da terceira escolha começaram as negociações – foram três na primeira rodada do recrutamento. A principal delas envolveu Atlanta Hawks e Dallas Mavericks. Com a disponibilidade do armador/ala-armador/ala esloveno Luka Dončić, que é considerado por muitos, inclusive pelo Jumper Brasil, o maior talento da classe de 2018, o time texano não desperdiçou a oportunidade e fechou a troca com o Hawks. Dončić foi escolhido na terceira posição e, imediatamente, trocado para o Mavs. Na negociação, a equipe de Atlanta recebeu a quinta escolha – que veio a ser o jogador que eles mais desejavam, o armador Trae Young, cestinha e líder em assistências na última temporada do basquete universitário. De quebra, o Hawks angariou uma futura pick de primeira rodada do Mavs – protegida até a quinta escolha em 2019 e 2020, 1-3 em 2021 e 2022 e desprotegida em 2023. Por conta dessa troca, considero a franquia de Dallas a grande vencedora da noite.
As surpresas nas escolhas de loteria ficaram a cargo de Los Angeles Clippers e Denver Nuggets. A equipe angelina selecionou, na 13ª posição, o ala-armador Jerome Robinson, prospecto que mais subiu nas projeções nos últimos dias. E, na última pick de loteria, o Nuggets escolheu o ala Michael Porter Jr., talvez o terceiro maior talento do Draft (atrás de Dončić e Ayton), que caiu no recrutamento por conta da grave lesão nas costas que o afastou de quase toda a temporada do College.
Nesta primeira parte faremos as análises dos times que tiveram escolhas de loteria, e apontar quem fez um bom recrutamento e quem não foi tão bem assim no Draft. Neste domingo será publicada a segunda parte da análise, com as escolhas restantes.
Phoenix Suns
Escolhas: Deandre Ayton (1), Mikal Bridges (10), Elie Okobo (31) e George King (59)
Avaliação: O Suns teve a chance de selecionar o maior talento da classe (Dončić), mas optou pelo prospecto que é identificado com a cidade e com a franquia, e já caiu nas graças da torcida. Desde que participou do único treino privado para uma equipe da liga, ficou claro que Ayton seria o escolhido pelo Suns. Na coletiva pós-workout, o GM Ryan McDonough deu sinais de que o pivô era tudo aquilo e mais um pouco que a franquia imaginava. Ayton disse, na ocasião, que seria a primeira escolha e que seria um sonho jogar pelo time do seu Estado. Poucas horas depois, ele chegou, inclusive, a assistir ao terceiro jogo das finais da NBA junto com outros jovens do elenco do Suns, como Devin Booker e Josh Jackson. O roteiro já estava praticamente finalizado. Só faltava o anúncio no Draft. Considero Ayton o segundo maior talento deste ano, e ele chega a Phoenix para suprir uma carência histórica da equipe na posição 5. Ele é uma aberração do ponto de vista físico-atlético, um grande finalizador próximo ao aro, um reboteiro feroz e um bom passador no high post, mas deixa a desejar na defesa. Se conseguir combinar seus atributos com o impacto legítimo nos dois lados da quadra, Ayton tem potencial para ser uma estrela na NBA.
Posteriormente, o Suns fez uma troca com o Sixers e recebeu o ala Mikal Bridges, que havia sido a décima escolha. Na negociação, o time do Arizona enviou a pick 16 e uma futura escolha de primeira rodada (2021) à equipe da Philadelphia. Antes de mais nada, Bridges é uma escolha segura. Ele tem perfil físico-atlético excelente para atuar como combo forward nessa era do small ball na NBA. Além disso, ele é dotado de ótimos fundamentos na defesa, capaz de defender múltiplas posições, joga basquete de forma altruísta, possui um arremesso muito eficiente e sabe se movimentar sem a bola. Bridges é um potencial 3 and D na NBA e é elogiado constantemente pela ética de trabalho. Gostei da chegada do jogador, que vai contribuir de imediato, mas achei que foi por um preço ‘salgado’. O detalhe é que a pick de 2021, oriunda da negociação que envolveu a ida de Goran Dragic para o Miami Heat, é desprotegida.
Na primeira escolha da segunda rodada, o Suns fez outra escolha elogiável e que para muitos pode ser considerado uma steal. Considerado um dos cinco melhores armadores do recrutamento, o francês Elie Okobo sobrou na pick 31 para a surpresa de muita gente que o colocava como uma escolha quase certa de primeira rodada. Com o francês, o time de Phoenix ganha um armador atlético e que tem um arremesso consistente, algo em falta na equipe. Experimentado no basquete profissional, Okobo combina versatilidade para atuar com ou sem a bola em mãos, chute após o drible e braços longos. Pelo o que o GM do Suns disse, nessa sexta-feira, o jovem francês virá para a NBA de imediato.
O Suns finalizou o recrutamento com a seleção do ala George King, um prospecto de 1.98m que fez todo o ciclo universitário e já tem 24 anos. Ele possui um corpo pronto para encarar o jogo físico da NBA, uma envergadura elogiável (2.12m) e é um defensor razoável de perímetro. Dificilmente, King terá espaço na rotação do Suns – que já conta com Bridges, Booker, Jackson e T.J. Warren nas alas, e deverá passar boa parte da temporada na G League. A escolha de um prospecto ‘velho’ foi surpreendente porque, a essa altura, esperava que o Suns fosse atrás de um algum prospecto internacional que não viria de imediato para a NBA.
Em linhas gerais, o Suns mostrou no recrutamento que quer mesmo dar um basta na má fase que pegou a equipe de jeito nesta década. Nenhum dos quatro prospectos selecionados é um projeto de médio e longo prazo. São atletas prontos para contribuir. A intenção da franquia é ser competitiva e voltar a brigar por playoffs já na próxima temporada. Sob o comando do novo técnico Igor Kokoskov, a base jovem com Okobo, Booker, Bridges, Jackson, Warren, Dragan Bender, Marquese Chriss e Ayton deixa o torcedor animado e esperançoso que dias melhores virão. O tank parece coisa do passado em Phoenix.
Sacramento Kings
Escolha: Marvin Bagley (2)
Avaliação: Nos últimos anos, o Sacramento Kings virou sinônimo de desorganização na NBA por conta de decisões questionáveis / equivocadas de seus dirigentes. Com a segunda escolha do Draft em mãos, a equipe californiana tinha a chance de selecionar um jogador que pudesse ser a cara da franquia nos próximos anos. Se o Suns fosse de Ayton, sobraria Dončić. Ou se fosse no esloveno, sobraria o pivô. A posição do time de Sacramento era muito confortável. Só que, nessa quinta-feira, o Kings contrariou a opinião de muitos analistas e selecionou o ala-pivô Marvin Bagley. O GM Vlade Divac fez questão de dizer que a franquia conseguiu o atleta que queria e que foi uma escolha fácil. Dos prospectos de elite do Draft, Bagley foi o único que se dispôs a fazer um treino privado para a equipe. Nas entrevistas, ele demonstrou interesse em atuar em Sacramento, algo raro nos tempos recentes, dada a má fama da franquia, e isso pode ter contado na hora de anunciar a pick.
Muito atlético, ágil e explosivo, Bagley é um big man que chama a atenção pela coordenação e controle de corpo, pelo poder de finalização e por ser um ótimo reboteiro, mas é um péssimo defensor (baixa envergadura para defender o aro, se atrasa em rotações do lado contrário, se perde na defesa de perímetro). Muitos olheiros consideram que Bagley será um jogador produtivo na NBA, com ótimos números, mas que não jogará um ‘basquete vencedor’. Ser escolhido pelo Kings não parece ser o cenário dos mais ideais para o ala-pivô que tem um jogo ofensivo de pivô. Como Draft não é ciência exata e a gente está sujeito a ‘queimar a língua’ quando analisamos os prospectos que chegam à liga, o tempo dirá se a diretoria do Kings tem razão. Minha opção teria sido por Dončić sem pensar duas vezes.
Dallas Mavericks
Escolhas: Luka Dončić (3), Jalen Brunson (33), Ray Spalding (56) e Kostas Antetokounmpo (60)
Avaliação: Conforme disse no início do post, o time texano foi o grande vencedor do Draft. O maior talento do recrutamento caiu no colo da equipe que tinha apenas a quinta escolha, mas que foi determinada o bastante para fazer uma troca e ficar com a terceira pick. Dončić estava no topo do ranking de prospectos do Mavs e a franquia não mediu esforços para adquiri-lo, tanto que abriu mão de uma futura pick de primeira rodada (protegida até a quinta escolha em 2019 e 2020, até a terceira escolha em 2021 e 2022 e desprotegida em 2023).
O técnico Rick Carlisle já afirmou em alto e bom som que Dončić será titular desde a primeira partida e que o prodígio esloveno é a peça fundamental de um time vencedor. Dončić é versátil e pode atuar em todas as posições do perímetro. Dotado de alto QI de basquete, o jogador esloveno talvez seja o prospecto com maior experiência e produtividade em alto nível da história do recrutamento. Ele é um grande criador de jogadas para os companheiros, tem capacidade de arremessar parado, após o drible ou correndo por entre corta-luzes, e finaliza bem na área pintada. Para muitos analistas, Dončić só não foi a primeira escolha por conta de um já reconhecido receio das equipes da NBA em apostarem muito alto em atletas de fora dos EUA, algo que o time de Dallas, historicamente, não segue à risca.
Na segunda rodada, vale elogiar a opção do Mavs pelo armador Jalen Brunson, eleito melhor jogador da última temporada do College e bicampeão pela Universidade de Villanova. Ele é um playmaker que sabe controlar o ritmo do jogo, cuida bem da bola, tem sólida visão de quadra e opera com facilidade no pick-and-roll. Além disso, ele tem um trabalho de pés apurado, não foge do jogo de contato e é um excelente arremessador após o drible. Entretanto, vale dizer que suas limitações atléticas poderão lhe causar problemas – tanto na defesa quanto na finalização de jogadas – na NBA. Com as escolhas de Dončić e Brunson, o time de Dallas seguiu um padrão: apostou em jovens acostumados a ganhar títulos. É dessa mentalidade vencedora que o Mavs precisa para voltar a ser um contender na liga.
Quanto às escolhas de final de segunda rodada, adquiridas após uma troca com o Sixers, a franquia texana selecionou dois alas-pivôs dotados de boa envergadura, não muito fortes fisicamente e que são projetos de bons protetores de aro. Spalding e o irmão mais novo de Giannis Antetokounmpo deverão passar boa parte da temporada na G League.
Memphis Grizzlies
Escolhas: Jaren Jackson Jr. (4) e Jevon Carter (32)
Avaliação: Ao selecionar dois dos melhores defensores do basquete universitário, o Grizzlies parece que está disposto a retomar o espírito Grit and Grind (coragem e esforço), marca registrada da equipe nos últimos anos, quando ganhou a simpatia de muitos fãs da NBA por ser um time “brigador” e com muita vontade em quadra, algo que foi abandonado na última temporada. JJJ é um dos prospectos mais intrigantes de 2018. Dotado de ótimos atributos físico-atléticos para atuar em ambas as posições do garrafão, com altura e envergadura (2.26m) para competir contra jogadores de qualquer tamanho, ele é muito desenvolvido defensivamente para alguém que tem somente 18 anos. Ele entende rotações, ocupa bem espaços, protege o garrafão com maestria e pode trocar marcação no perímetro. Com pouco tempo de quadra em Michigan State (cerca de 22 minutos por jogo), JJJ teve um impacto defensivo absurdo e, não por acaso, é considerado por muitos analistas o melhor defensor da classe deste ano. De quebra, ele espaça a quadra na linha de três pontos, e apresenta bom volume e aproveitamento nos arremessos do perímetro.
JJJ é um raro tipo de jogador que pode trocar marcação, proteger o aro e arremessar para três pontos, o que permite que o time o explore de diferentes maneiras e esquemas táticos. Em suma, o encaixe perfeito para o que pede a NBA atual. Mas vale apontar que ele é bastante inconsistente no setor ofensivo, um passador limitado e tem sérios problemas com faltas. JJJ é um projeto de médio e longo prazo. Não é o tipo de prospecto que vai contribuir de imediato porque tem muito o que evoluir na parte ofensiva. O meu receio é que a franquia queime o jogador, como fez com outros jovens nos últimos anos. Desde 2010, nenhum jogador do Grizzlies foi escolhido para o primeiro ou segundo time de novatos; as últimas duas escolhas de loteria da equipe (Hasheem Thabeet e Xavier Henry) foram trocadas após uma temporada e sumiram do mapa da NBA; de 2009 a 2015, nenhum novato durou mais do que duas temporadas em Memphis; e o último escolhido pela equipe no Draft (Wade Baldwin, pick 17 em 2016) foi dispensado após uma temporada. Chegou o momento do Grizzlies deixar de ser um ‘cemitério de novatos’.
Na segunda rodada, o time de Memphis selecionou o armador Jevon Carter, considerado o melhor defensor nas posições 1 e 2 do recrutamento. Ao contrário de JJJ, Carter chega à NBA com a experiência de quatro anos no College. Ele é um atleta incansável e ativo, com uma mentalidade muito agressiva nos dois lados da quadra. Não vai faltar entrega em quadra. Ele combina disposição para o jogo físico, agilidade lateral, intensidade e instintos apurados na defesa. Seus instintos defensivos aparecem com força total na quebra de linhas de passe. Conseguiu, usando suas mãos rápidas e ótima leitura de jogo, registrar média de 3.0 roubos de bola na temporada passada. Vale dizer que Carter completará 23 anos em menos de três meses, o que indica que ele não tem muito potencial físico e técnico a ser trabalhado.
Enfim, que o espírito Grit and Grind volte a fazer parte da cultura do Grizzlies e que o time sem identidade da última temporada fique no passado.
Atlanta Hawks
Escolhas: Trae Young (5), Kevin Huerter (19) e Omari Spellman (30)
Avaliação: A direção do Hawks pode ter feito a maior bobagem dos tempos recentes em Draft. Ou pode ter feito uma jogada arriscada que dará uma alta recompensa no futuro. Por enquanto fico com a primeira alternativa. A franquia de Atlanta teve a faca e o queijo na mão para selecionar o maior talento do Draft, que Suns e Kings deixaram passar nas duas primeiras escolhas. Mas Dončić não encantou os dirigentes da equipe. A menina dos olhos do Hawks era o armador Trae Young. Só que ‘gastar’ a terceira pick com um prospecto cotado para ser escolhido entre a sexta e a 12ª posição não parecia muito inteligente. Foi então que a franquia fechou a troca com o Mavs, que desejava Dončić. Na negociação o Hawks conseguiu o que mais queria: uma escolha mais baixa para selecionar Young e uma futura pick (protegida) de primeira rodada, que pode não ter muito valor no futuro, caso o time de Dallas volte a fazer boas campanhas.
Na minha opinião, Young é um dos prospectos de elite que mais corre o risco de ser um bust na NBA. Ele chamou a atenção de todos pelo desempenho notável, sobretudo na primeira metade da temporada do College. Foi o líder em pontos e assistências, e o jogador que mais converteu bolas de três pontos. Não por acaso começaram a surgir as comparações com Stephen Curry, especialmente pelo domínio de bola e chutes de longa distância. Devido a esse sucesso meteórico, Young passou a ser mais visado pelos adversários e caiu de produção ao longo da temporada. Sua falta de atleticismo e de esforço defensivo, aliadas à alta taxa de desperdícios de bola e o fraco poder de finalização ao redor do aro, levantam sérias dúvidas quanto ao seu sucesso na NBA. Mas ele é, inegavelmente, um dos melhores arremessadores da classe e um ótimo playmaker. Young possui um chute com uma mecânica muito rápida e com distância de passos atrás da linha de três pontos da NBA, além de versatilidade para arremessar após o drible no pick and roll, em jogadas de isolation e após corta-luzes. Ele mostrou uma produtividade assustadora para um novato. Será que ele vai ter na liga a mesma capacidade de carregar esse volume ofensivo? É muito complicado. Young não é explosivo e ágil o suficiente para criar separação sempre contra defensores físicos ou atléticos, que é o que ele vai encontrar na NBA.
Na pick 19, o Hawks selecionou um dos jogadores que mais subiu nas projeções nas últimas semanas. Muitos acham que o ala-armador Kevin Huerter tinha uma promessa da equipe. Ele traz uma habilidade de elite que está muito em alta na NBA atual: o arremesso em movimento. Sua principal virtude, no entanto, é a inteligência em quadra. Além dos 42% de aproveitamento nos arremessos do perímetro, Huerter chama a atenção por ser um atleta com compreensão especial da dinâmica do jogo nos dois lados da quadra. Alguns analistas já consideram que o gerente-geral do Hawks, Travis Schlenk, que trabalhou como GM assistente no Golden State Warriors, quer reeditar em Atlanta o que foi feito no time californiano: que Young e Huerter tenham papéis parecidos com os de Curry e Klay Thompson, os Splash Brothers.
Na escolha 30, o Hawks surpreendeu ao selecionar um atleta que não estava sendo cotado para a primeira rodada. Mas, no fim das contas, quando descobrimos o objetivo do time de Atlanta no recrutamento, a opção pelo pivô Omari Spellman, campeão universitário por Villanova, faz sentido. Ele é um stretch five que teve um aproveitamento acima de 43% nos chutes do perímetro. Ao escolher três prospectos que, combinados, converteram 256 bolas de três pontos, em 2017/18, o novo Hawks deixa claro que vai usar e abusar dos arremessos de longa distância. Podemos concluir que o time de Atlanta quer mesmo emular o Warriors. Ousadia pura… Missão complicadíssima…
Orlando Magic
Escolhas: Mohamed Bamba (6), Melvin Frazier (35) e Justin Jackson (43)
Avaliação: Ao longo dos últimos meses, vários Mocks apontavam que o Magic provavelmente iria selecionar um armador no recrutamento. Com Dončić e Young escolhidos por outros times, e sem demonstrar muitas confiança nos outros armadores, restou à equipe de Orlando optar pelo maior talento disponível. E o escolhido foi o intrigante pivô Mo Bamba, dono da maior envergadura já vista em um prospecto de Draft, uma aberração física e um jovem muito bem articulado e consciente nas entrevistas. Pivô móvel e coordenado em seus movimentos, ele tem um upside incalculável como protetor de aro e já foi um dos melhores do College nesse quesito. Sua mecânica de arremesso mostra que ele pode desenvolver um chute confiável no futuro, o que será fundamental para o seu sucesso na NBA nos dois lados da quadra. Muito magro e cru na parte ofensiva, Bamba é um finalizador limitado, com um corpo incapaz de absorver contato (ainda). Achei uma boa escolha para o Magic, que agora deve tentar trocar um de seus pivôs – Nikola Vucevic ou Bismack Biyombo – e buscar o esperado armador via troca.
Gostei também da pick 35 da equipe da Flórida. Melvin Frazier possui atributos atléticos de elite e foi um dos melhores defensores do basquete universitário na última temporada (especialmente no um contra um). É o protótipo de 3-and-D tão em alta na NBA, com o bônus de conseguir criar para os companheiros. Tem tudo para estabelecer uma carreira sólida como role player na liga.
A escolha 43 foi uma aposta válida do Magic. Justin Jackson é um combo forward que chegou a ser cotado como escolha de loteria no início da temporada. mas em razão de uma grave lesão no ombro direito foi caindo drasticamente nas projeções. Assim como Bamba e Frazier, Jackson chama a atenção pela envergadura e pelos atributos atléticos.
Que coisa, não é Ricardo Stabolito Jr… Fiz vários elogios ao recrutamento do Magic. Que a franquia de Orlando saia da reconstrução em loop e entre, finalmente, no caminho certo para voltar a ser competitiva.
Chicago Bulls
Escolhas: Wendell Carter (7) e Chandler Hutchison (22)
Avaliação: O Chicago Bulls não preferiu arriscar e deixou passar o ala Michael Porter Jr., apontado como escolha favorita para muitos de seus torcedores. A direção do Bulls, a meu ver, acertou em cheio a selecionar o pivô Wendell Carter. Em uma classe com grandes talentos no garrafão, ele é um pivô móvel, com boa envergadura e força física adequada para encarar o basquete profissional. Devido ao seu alto QI de basquete, Carter é útil nos dois lados da quadra. No ataque, o pivô mostra um sólido jogo no post e tem alcance para chutar do perímetro. Na defesa, ele sabe quando dobrar na marcação, tem braços ativos para contestar os chutes do adversário e um bom timing para bloquear arremessos. Além disso, ele é um passador seguro no high post e um grande reboteiro. Porém, Carter é o menos ágil dos pivôs de elite deste ano. Ele me lembra muito Al Horford. Por conta de todas as qualidades descritas, vejo Carter como um ótimo complemento para o finlandês Lauri Markkanen. Confidência: acho Carter melhor prospecto do que Bagley, seu ex-companheiro em Duke.
Na pick 22, o que muita gente imaginava se confirmou: Chandler Hutchison realmente tinha a promessa de ser escolhido pelo Bulls. Produto de uma universidade desconhecida (Boise State), ele é um ala atlético capaz de explodir em infiltrações e defender múltiplas posições. Hutchison evoluiu ano a ano no basquete universitário, especialmente na criação de jogadas para os companheiros e na mecânica de arremesso. Entretanto, o controle de bola apenas mediano, a falta de força física e as dificuldades em criar uma separação de seus marcadores tornam seu potencial mais baixo do que o ideal. Mas, no geral, é uma aposta válida. Pela falta de talento na posição 3 da equipe de Chicago, Hutchison pode ganhar minutos já em seu ano de estreia na NBA.
Cleveland Cavaliers
Escolha: Collin Sexton (8)
Avaliação: Ao contrário do que alguns rumores apontavam, o Cavs manteve a sua escolha no Draft e selecionou um jogador para a posição mais carente do time: a armação. O escolhido foi Collin Sexton, um competitivo armador que adora um estilo mais físico e é agressivo nos dois lados da quadra. Muito veloz, sobretudo em transição, ele tem um controle corporal avançado e é capaz de fazer mudanças agressivas de direção. É quase que consenso que seu jogo de slasher será beneficiado pelas quadras mais espaçadas da NBA. No entanto, Sexton é um passador limitado. Por isso, o armador vai precisar ser um bom arremessador (e melhorar a seleção de chutes) para justificar seu estilo de pouca criação para os companheiros e de muita infiltração para conquistar espaços no nível profissional. Pensando na permanência de LeBron James em Cleveland, Sexton não é o melhor dos encaixes, já que o astro gosta de ficar com a bola nas mãos e o novato não é muito útil sem a bola. Ou a opção por Sexton já é um indicativo de que a franquia está pessimista quanto à permanência de seu maior ídolo? Vai saber…
New York Knicks
Escolhas: Kevin Knox (9) e Mitchell Robinson (36)
Avaliação: Era quase que consenso que o Knicks iria selecionar um ala no recrutamento. Com Michael Porter Jr. disponível, me surpreendeu que a equipe novaiorquina não tenha escolhido aquele que é considerado um dos três maiores talentos da classe. Afinal, pelas notícias que chegam dos Estados Unidos, o principal jogador do Knicks, o letão Kristaps Porzingis, ficará fora de boa parte ou até da próxima temporada inteira por conta do rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Ou seja, a equipe não deve brigar por muita coisa em 2018/19. Outra boa opção teria sido Mikal Bridges, considerado uma escolha segura.
Mas o Knicks resolveu apostar suas fichas no combo forward Kevin Knox, um dos prospectos mais jovens deste ano. Ele foi a última vítima de um problema que tem assolado bons prospectos de Kentucky nos últimos anos: o excesso de bons recrutas força alguns jovens a jogarem fora de posição, impedindo que mostrem a totalidade dos seus talentos para olheiros da NBA. Foi o caso de Knox, que tem o tamanho ideal e o jogo moderno para jogar de ala-pivô na NBA, mas que passou o ano jogando somente na posição 3. Ele não tem um arremesso tão consistente e nem chama a atenção na defesa. Knox é um projeto de médio e longo prazo, mas que deverá se beneficiar pelo maior espaçamento na NBA. Para manter a tradição, torcedores do Knicks que compareceram à cerimônia do Draft, no Barclays Center, vaiaram a escolha da franquia.
Na segunda rodada, o Knicks selecionou um jogador que foi cotado nos últimos meses como uma escolha de primeira rodada. Mitchell Robinson preferiu não atuar por nenhuma universidade na última temporada. Há menos de dois anos, ele competia em condição de quase igualdade com Ayton e Bamba no basquete colegial. Para alguns olheiros, Robinson provou-se tão móvel, ágil e bom protetor de aro quanto os pivôs citados. O problema é que ele é um mistério agora: já não joga competitivamente faz um ano e acumula graves dúvidas sobre conduta, ética e dedicação. Em suma, Robinson é uma aposta arriscada do time novaiorquino. A recompensa pode ser grande.
Los Angeles Clippers
Escolhas: Shai Gilgeous-Alexander (11) e Jerome Robinson (13)
Avaliação: O Clippers foi outro time que não arriscou escolher Michael Porter Jr.. E olha que o time angelino teve duas picks de loteria. Na escolha 11, adquirida em uma troca com o Hornets, os dirigentes do Clippers selecionaram quem eles queriam: o armador canadense Shai Gilgeous-Alexander. E eu curti muito essa escolha. Combo guard dotado de altura e envergadura privilegiadas e que oferece versatilidade defensiva para marcar as três posições de perímetro, Alexander possui alto QI de basquete e joga de maneira inteligente dos dois lados da quadra. Passador seguro, ele se aproveita bem do tamanho para enxergar o jogo por cima dos oponentes. A falta de confiança no arremesso e o corpo longe do ideal para encarar o basquete profissional (ele é muito magro, um autêntico ‘chassi de grilo’) são questões que precisam ser melhoradas. O problema é que, hoje, o Clippers tem Milos Teodosic, Patrick Beverley e Jawun Evans para a posição 1. Será que vão dar espaço ao novato? Espero que sim. Alexander era alvo também do Toronto Raptors, que não conseguiu viabilizar uma troca para selecioná-lo. Um backcourt formado por Beverley e SGA seria muito interessante do ponto de vista defensivo.
Na pick 13, o Clippers surpreendeu ao selecionar o ala-armador Jerome Robinson, prospecto que mais subiu nas projeções nas últimas semanas. Um dos cestinhas mais sólidos do basquete universitário na última temporada, Robinson exibe variedade de dribles, pontua de todos os cantos da quadra, possui avançado trabalho de pés, tem facilidade de gerar separação para os marcadores e é um dos melhores arremessadores da classe. No entanto, ele compromete bastante na defesa (péssimo marcador sem a bola, perde-se facilmente nos bloqueios, pouco eficiente na antecipação das linhas de passe, não tem um bom timing para bloquear arremessos) e não oferece muito upside. Robinson é, de longe, o pior defensor entre os atletas selecionados na primeira rodada e vai atuar em um time que já possui Lou Williams e Austin Rivers para a posição. Dá para entender o que o Clippers fez? Eu não entendi até agora… Com a provável saída de DeAndre Jordan, que deve se tornar agente livre em julho, o pivô Robert Williams teria sido uma escolha mais sensata.
Mas é bom não duvidar da lenda Jerry West, um dos responsáveis pelas escolhas da equipe angelina no recrutamento e uma das grandes mentes do basquete. De repente, o Clippers tem trocas engatilhadas envolvendo vários dos jogadores citados acima (desconfio disso), e daqui a algum tempo, a gente poderá estar falando: agora tudo faz sentido. Hoje não dá para afirmar isso.
Charlotte Hornets
Escolhas: Miles Bridges (12), Devonte’ Graham (34) e Arnoldas Kulboka (55)
Avaliação: Apesar do Charlotte Hornets ter vários alas no atual elenco – Nicolas Batum, Michael Kidd-Gilchrist, Marvin Williams, Dwayne Bacon e Jeremy Lamb – gostei da seleção de Miles Bridges, oriunda da troca de escolha com o Clippers. E espero que pelo menos dois dos jogadores citados sejam negociados para que o novato tenha espaço logo na primeira temporada na NBA. O ex-jogador de Michigan State já poderia ter sido uma escolha de loteria no Draft de 2017, mas decidiu permanecer no College por mais um ano. É bem raro ver um jovem atlético com um estilo de jogo tão ‘redondo’, completo e versátil. Bridges pode arremessar e passar a bola, trabalhar sem a bola (ótimo cutter) e defender múltiplas posições. Sua visão de quadra e ataque a closeouts realmente se destacarão no maior espaçamento da NBA.
Na segunda rodada, o Hornets selecionou Devonte’ Graham, cuja maior virtude é o arremesso. Armador muito inteligente e trabalhador, ele evoluiu a cada ano no College e recebeu elogios por seu espírito de liderança em quadra. Entretanto, Graham não é um armador particularmente alto e, para piorar, os seus atributos atléticos não passam de medianos. Além disso, ele tem uma tremenda dificuldade finalizando em torno da cesta e não oferece muito upside, pois já tem 23 anos. Prevejo muitas dificuldades para Graham na NBA. Eu teria escolhido outro jogador (com maior upside) na pick 34.
Ainda na segunda rodada, o time de Charlotte optou por um prospecto que deverá ficar mais algum tempo no basquete europeu (stash) na pick 55. O ala lituano Arnoldas Kulboka tem um conjunto de altura e envergadura (2.13m) que lhe permite atuar tanto como ala como ala-pivô, podendo jogar como stretch four. Ele é um dos melhores arremessadores do recrutamento (mecânica de arremesso rápida e compacta) e muito ativo sem a bola. Porém, o lituano não parece jogar sempre com ‘dureza’ ou agressividade, sobretudo na defesa, sofre bastante para finalizar contra contato e tende a perder o controle das ações quando seu chute não cai. Aposta mais do que válida a essa altura.
Denver Nuggets
Escolhas: Michael Porter Jr. (14) e Jarred Vanderbilt (41)
Avaliação: Quem diria que um dos três principais prospectos do basquete universitário seria a última escolha da loteria. Michael Porter Jr. caiu bastante nas projeções devido à preocupação das franquias da NBA quanto aos seus problemas físicos e, segundo o sempre bem informado Adrian Wojnarowski, da ESPN, sua imaturidade, personalidade difícil e problemas de relacionamento com os companheiros foram outros fatores que assustaram as equipes.
Vale lembrar que uma fratura por estresse nas costas o afastou de praticamente toda a temporada. A lesão, que costuma ser debilitante para atletas, exigiu cirurgia e levanta dúvidas sobre seu futuro. Informações vindas dos Estados Unidos garantem que o jogador pode até ficar afastado de boa parte da temporada 18/19 da NBA para se recuperar totalmente. O Nuggets não poderia ter ficado mais animado com a queda de Porter Jr. Saudável, ele provavelmente teria sido uma escolha TOP4 no Draft. Versátil, ele é um ótimo arremessador, especialmente difícil de ser marcado por conta da mecânica com alto ponto de lançamento e impulsão. Mesmo tirando as questões de saúde, seu jogo também é meio 8 ou 80: excelente tamanho e arremesso de elite, perfeito para a NBA moderna e com instintos pontuadores de um astro, mas algumas dificuldades defensivas.
A tendência a um estilo de jogo ineficiente e dificuldades de se encaixar em um time fazem dele um dos prospectos de maior risco e potencial do recrutamento. Em um time que já conta com Jamal Murray, Gary Harris, Wilson Chandler, Paul Millsap e Nikola Jokic, a presença de mais um scorer é realmente necessária? Ele será um bom encaixe no Nuggets? Tenho dúvidas quanto a isso… Só sei que a franquia de Denver confia bastante no retorno que Porter Jr. pode dar em quadra. Pelo talento bruto e potencial do jovem, a opção do Nuggets até que é bastante compreensível. A recompensa pode valer a pena.
Na segunda rodada, o Nuggets optou pelo atlético combo forward Jarred Vanderbilt, que atuou pouco por Kentucky na última temporada por conta de uma lesão no pé esquerdo. Para piorar, o jovem angariou uma lesão no tornozelo esquerdo durante o período de treinamentos para o recrutamento e ficou de fora até do NBA Draft Combine. Como o time de Denver gosta de um combo forward, hein? Lembrando que a equipe já tem no elenco Juancho Hernangómez, Wilson Chandler, Trey Lyles e Tyler Lydon. Diferentemente dos atletas citados, Vanderbilt é um péssimo arremessador. Longe de estar pronto para a NBA, e prejudicado por lesões, o ex-jogador de Kentucky deverá passar grande parte da temporada na G League.