Poucas carreiras profissionais recentes no esporte foram tão singulares quanto a de Stephon Marbury. O armador passou rapidamente de astro a jogador sem espaço na NBA e, contra todas as probabilidades, reencontrou sua motivação para atuar na China – onde tornou-se o maior jogador da história do basquete local. Ele anunciou sua despedida das quadras na última semana e, às vésperas de completar 41 anos, acredita ter feito uma trajetória da qual pode orgulhar-se.
“Eu estou em paz com a minha carreira. Estou cansado também, pois são 22 anos como profissional. Mas, acima de tudo, em paz: bem e satisfeito com o lugar onde cheguei. Eu gosto de ter o controle sobre o fim do que faço em vez de iniciar mais uma temporada e querer parar no meio. Estou totalmente em paz com tudo o que fiz. Do início ao fim”, afirmou o veterano, que não pretende voltar a morar nos EUA, em uma longa entrevista ao site The Undefeated.
Marbury chegou ao basquete chinês em janeiro de 2010, após um período em que o próprio disse ter ficado “mentalmente instável”, e foi um sucesso imediato. Mas seria só no ano seguinte, quando assinou com o Beijing Ducks, que ele tornou-se uma lenda do basquete chinês. No time da capital chinesa, o armador ganhou três títulos nacionais, recebeu cinco convocações para o Jogo das Estrelas, um prêmio de MVP estrangeiro da temporada e um troféu de MVP das finais.
“A NBA, para mim, foi a preparação para realmente realizar algo aqui. As pessoas não sabem como é difícil jogar na China, conquistar três títulos em um país onde você nem sabe falar o idioma nativo. Todo conhecimento que recebi no basquete norte-americano permitiu chegar à China e injetar o tipo de energia que essa cultura precisava para crescer”, contou o agora ex-atleta, que disputou a última temporada profissional pelo Beijing Fly Dragon.
Mas Marbury foi maior do que o basquete na China. Ele ganhou uma estátua no ginásio do Ducks, um museu, um selo comemorativo, um green card especial, um filme e um musical de teatro sobre sua vida. Tornou-se um inesperado e grandioso ídolo na CBA. “Acho que levamos o esporte a outro nível e gosto de pensar que tive algo a ver com isso, fiz algo por um lugar onde o basquete realmente decolou. Sou um veterano orgulhoso observando todas essas mudanças”, celebrou.
Agora, seus planos envolvem seguir trabalhando pela popularização e organização do basquete chinês. Ele já se colocou à disposição do presidente da federação da modalidade no país, o ex-pivô Yao Ming, para atuar como puder no que acredita ser uma nova era do esporte no país. Além disso, ele não descarta uma eleição para o Hall da Fama – provavelmente, um contribuidor do esporte ao redor do planeta. E, nisso, ele tem o suporte de um membro recente do Naismith Memorial.
“Stephon é uma grande estrela na China. Teve uma ótima carreira na NBA, mas as coisas ficaram um pouco complicadas e conseguiu reinventar-se como jogador do outro lado do mundo. Acho que, com tudo o que ele conquistou aqui e no basquete chinês, ele deveria ser eleito para o Hall da Fama. Afinal, esse é o Hall da Fama do basquete, não da NBA”, defendeu o astro Tracy McGrady, que também jogou no Oriente e viu a idolatria a Marbury de perto.