Por Gabriel Andrade
Assim como Marvin Bagley III, outro jovem pivô que está ganhando projeção no basquete universitário e justificando sua alta cotação no draft é DeAndre Ayton. O garoto nativo de Bahamas, país tropical mais conhecido por ser alvo de desastres naturais do que um celeiro de talentos esportivos, já é monitorado por olheiros há tempos por conta de seus números chamativos. Agora, vamos analisar seu claro potencial atlético e observar os pormenores de seu jogo
DeAndre Ayton
País: Bahamas
Universidade: Arizona
Idade: 19 anos (1998)
Medidas Físicas
Altura: 2,13 metros (7’0’’)
Envergadura: 2,26 metros (7’5’’)
Peso: 110 kg (243 libras)
Atributos Posicionais
Posição listada: pivô
Estereótipo posicional: pivô espaçador e protetor de aro/unicórnio
Habilidades posicionais: espaçamento de quadra, criação de arremessos via
post up e versatilidade defensiva + proteção de aro
Jogadores de NBA na categoria: Kristaps Porzingis, Serge Ibaka, Myles Turner e Chris Bosh
Estatísticas
NCAA: 19.7 pontos, 11.9 rebotes, 1.7 assistências, 1.9 desperdícios de bola, 0.5 roubos de bola, 1.5 tocos, 61.9% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 30.4% de acerto nos arremessos de três pontos e 70.8% de conversão nos lances livres em 31.6 minutos por jogo.
Atributos Físicos
Nenhum jogador do basquete universitário norte-americano possui o conjunto de força, tamanho, envergadura, mobilidade e explosão de Ayton. Ele é simplesmente muito grande, forte e explosivo para esse nível de competição. Para tornar a tarefa ainda mais difícil, sua universidade joga sempre com outro homem grande que não espaça a quadra na rotação – geralmente, o lento e limitado Dusan Ristic –, o que faz com que seja defendido constantemente por jogadores mais baixos. Isso acaba despistando que ambos são projetados como pivôs de ofício na NBA. E, certamente, Ayton possui conjunto de medidas físicas e capacidade atlética mais do que ideais para atuar na NBA na posição cinco.
Defesa
Apesar de ter atributos para ser um defensor ultramoderno e versátil, o rendimento de Ayton é bastante decepcionante (sobretudo o que diz respeito aos instintos) – o que lembra bastante Karl-Anthony Towns. Faz rotações atrasadas, é um marcador coletivo bem ruim e parece não usar os recursos físicos como deveria para ser um “xerife” no garrafão. Ele revela-se melhor defendendo o perímetro, deslizando os pés para manter-se à frente de oponentes menores e instrumentalizando seus braços longos para cobrir espaços do que no garrafão, individualmente. Do ponto de vista coletivo, é ruim em ambos os casos.
A proteção de aro é seu maior problema. Seus instintos pífios fazem com que seja um defensor bem ruim próximo da cesta para alguém de seus atributos físicos, ainda mais considerando o espaçamento de quadra e limitação atlética dos jogadores do basquete universitário. Dá para dizer que ele é bastante passivo e excessivamente preocupado com rebotes. Veja nessa posse: Ayton assiste Tyler Davis abusar de seu companheiro no poste baixo, sendo que poderia simplesmente bloquear o arremesso ou fechar o espaço.
O adversário até errou a bandeja nesta outra posse, mas o jovem apenas estica o braço, não fecha o espaço e poderia ter sido mais físico.
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Em situação parecida, mas com um atacante infiltrando após receber de frente para a cesta, não estica nem o abraço para contestar o chute e cede cesta tranquila.
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Deixando mais claro como seu instinto rotacionando para prevenir infiltrações é ruim, eis mais um lance chamativo: Ayton permanece parado, não ousa contestar o chute e nem cobrir o espaço para forçar uma falta ao invés da bandeja fácil.
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O pivô não contesta o ala saindo do bloqueio e nem faz o bloqueio de rebote aqui, ficando na típica “ilha de nenhum homem”:
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Leituras mais básicas e atenção na jogada primária poderiam ajudá-lo. Temos aqui um fundo bola para a equipe adversária, Ayton está marcando Robert Williams (um finalizador muito limitado fora do garrafão) e um ala corta para a cesta, passando sem resistência alguma pelo bahamense. Ele recebe a bola debaixo da cesta, ainda tem tempo de ajeitar-se enquanto o pivô segue olhando para trás sem notar o que está acontecendo em quadra. Um passo e uma esticada de braço certamente conseguiria o toco fácil, a essa distância. Mesmo que o jogador desse o passe de volta para Williams após contestar, é melhor prevenir uma bandeja fácil do que ceder um arremesso de mais longe para um não-especialista. E, considerando que o adversário está de costas, é um passe difícil e improvável.
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Nesta jogada, veja como até acontece a cesta na isolação no poste baixo, mas é engraçado como o jogador que está indo correr atrás do rebote não recebe a menor atenção do pivô de Arizona.
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Ele é lento na hora de dobrar e recuperar-se na defesa do pick and roll: às vezes, simplesmente não corre como deveria para voltar a posição original. Pouco corre após chegar no armador (e nem faz pressão alguma no passe) no lance exibido a seguir e volta devagar para o garrafão. A defesa do lado contrário era baixa demais para contestar o grandalhão.
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Em outro erro de leitura coletiva, Ayton dobra com muita antecedência (antes até de ameaça ao passe) e acaba cedendo muito espaço para o chutador na zona morta.
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O jovem é melhor no garrafão defendendo o poste baixo. Não surpreende: trata-se de uma força física difícil de mover nas ações individuais, dono de alcance vertical difícil de arremessar por cima.
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Também possui certo sucesso quando tenta roubar a bola antes do adversário recebê-la.
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No perímetro, sua atuação é cheia de altos e baixos. Aqui, ele acaba por assistir demais à bola na infiltração sem contestar ou fechar espaços. Resultado: um arremesso fácil cedido na zona morta.
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Um dos bons flashes de como seus atributos físicos podem ser melhores utilizados está aqui, quando Ayton permanece atento na jogada e rotaciona após o adversário infiltrar conseguindo utilizar seu grande alcance vertical para contestar o chute:
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Outra boa posse está nesta ajuda em um companheiro envolvido no poste baixo:
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O calouro se sai muito bem quando precisa trocar marcação: embora grande, ele possui movimentos bem fluidos e velozes no perímetro. É capaz de mover seus pés para não ceder infiltração ou arremessos fáceis.
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Quando rotaciona e corre rápido para cobrir espaços, o garoto pode até contestar pick and pops rápidos como este:
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Ayton também é capaz de produzir jogadas defensivas em transição como neste toco sensacional, um resumo de seu potencial.
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Seu melhor atributo no setor defensivo é o rebote. Não é surpresa: ele é grande, forte, com enorme raio de ação para coletar alguns fora de sua área e alcance vertical.
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Ofensivamente próximo à cesta
Ayton é um finalizador eficiente, produtivo e relativamente refinado próximo ao aro. Não é um criador de arremessos para si mesmo em volume de formas tão diversas, como por um trabalho fluido no poste baixo, arremesso após dribles ou infiltrações vindas do perímetro. Seu trabalho em Arizona se concentra mais no uso da força, arremesso no pick and pop ou isolações na meia distância, bolas rápidas no poste baixo e ações gerais para enterradas com sua mobilidade.
Forte, com grande extensão e eficiência em seu gancho, ele pode apenas mover seus adversários usando o corpo e até executar giros ou hesitações para ambos os lados ao redor do aro. Mostra grande paciência no ataque. Graças ao seu alcance vertical, o jovem pode receptar passes muitos altos – o que facilita finalizar rápido ou arremessar por cima da defesa.
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Entretanto, Ayton não possui um conjunto de turnarounds ou fadeaways quando precisa operar mais afastado do aro. Fica, então, limitado a finalizações mais simples.
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Por conta da capacidade atlética, ele é um alvo de passes por cima do aro no pick and roll ou jogadas secundárias. Quando focado a ser um roll man e se jogar de maneira rápida no garrafão, trata-se de uma força praticamente imparável. Será beneficiado pelo melhor espaçamento de quadra da NBA para realizar jogadas como essa, de difícil execução por conta do pouco espaçamento de Arizona.
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E não é apenas um finalizador quando recebe a bola próximo ao aro: Ayton também é capaz de ter leituras rápidas para fazer passes para chutadores ou jogadores cortando para a cesta após dobras.
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Ofensivamente afastado do aro
Ayton possui em seu arremesso um recurso dos mais intrigantes. Não é fluido o suficiente para receber a bola em movimento como Towns ou Porzingis, nem tem jogo de pés para chutar após poucos dribles, mas possui mecânica rápida, alta e difícil de ser contestada, bastante eficaz na meia distância – tal qual Myles Turner. Adora receber a bola de frente para a cesta e chutar. É uma ótima opção para um sistema centrado em pick and pops e, eventualmente, pode estender seu alcance para linha de três pontos.
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Entretanto, a trajetória de seu arremesso é plana. Isso limita seu dinamismo como chutador e a projeção de seu chute para maiores distâncias: é simplesmente mais difícil para a bola completar seu arco e entrar na cesta quanto mais afastado do aro. Também poda sua capacidade de chutar depois do drible, pois necessita dos pés estabelecidos para arremessar. Chute tende a sair curto.
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Apesar de adorar receber a bola de frente para a cesta, ele não é muito versátil em suas ações, basicamente limitado a arremessos após jab steps. A mesma visão de quadra que tem próximo ao aro não se repete afastada do aro, apresentando “visão de túnel” quando tenta infiltrar e levando a tomar más decisões. Observe o exemplo dessa posse:
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Agora, olhe a jogada com mais cuidado: Ayton bate a bola e gira na direção da ajuda, além do que não havia espaço algum para infiltrar de nenhum lado, nem espaçamento para tal. Um passe seria muito mais esperto neste caso, afinal, havia uma marcação quíntupla nele e três jogadores livres:
Essa falta de visão repete-se nesta outra jogada: havia um chutador em um passe fácil no perímetro após a infiltração, que até pede a bola, mas não é observado:
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Já aqui, o garoto de Bahamas tenta um giro sem sucesso e perde outro jogador livre na linha de três pontos:
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Em algumas finalizações após infiltrações, Ayton mostra jogo de pés que pode ser trabalhado para estender seu approach, como essa posse em que passa a bola por trás das costas para conquistar a falta:
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Ele ainda consegue arrumar outra falta girando para a esquerda nessa jogada aqui, batendo o big man que respeitou seu arremesso:
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Produtivo, de grande físico e bons atributos no ataque, Ayton precisa aprimorar a defesa para ser um jogador mais efetivo no geral. Se o arremesso se traduzir e conseguir se transformar em um protetor de aro, será o caso de “unicórnio”: aquele pivô que, além de espaçar a quadra, é capaz bloquear arremessos. Dos tipos mais raros de se achar na NBA. Ao mesmo tempo em que é empolgante ver alguém de tanto potencial, não deixa de ser decepcionante ver que poderia ser ainda mais útil com maior consciência do próprio físico e leitura de jogo.
Em termos de potencial físico e ferramentas, Ayton é o talento mais intrigante do draft ao lado de Michael Porter Jr. Dada todas as condições e potencial que tem, ele é capaz de ser o único que pode batalhar com Luka Doncic pela primeira posição geral do draft.