O segundo texto da série quinzenal a respeito de grandes times que marcaram época, mas que não conquistaram o tão desejado anel de campeão da NBA, tem um valor sentimental para este que vos escreve.
A série final da temporada 1992/93, entre Phoenix Suns e Chicago Bulls, foi a minha porta de entrada para o mundo da NBA. Aos dez anos, comecei a me interessar pelo basquete a partir das transmissões da TV Bandeirantes, que eram comandadas pelo saudoso Luciano do Valle e pela enciclopédia do esporte Álvaro José. A decisão de 93 ainda teve a participação do ex-treinador Edvar Simões nos comentários. Na época, eu não tinha internet em casa, não tinha computador, não tinha TV a cabo, muito menos smartphones. Foi através dos jogos televisionados pela Band que o meu interesse pelo melhor basquete do mundo cresceu ao longo das temporadas seguintes.
Fiquei encantado com o Suns, equipe que tinha as cores roxa, branca e laranja em seu lindo uniforme. Como eu era apenas um iniciante, não sabia quase nada sobre a equipe. A cada jogo do time de Phoenix durante a série final, os nomes de Charles Barkley, Kevin Johnson e Dan Majerle, e aquele logotipo maravilhoso da franquia não me saíam da cabeça. Por esses fatores, decidi que o Suns seria o meu time do coração na NBA. E já se vão quase 25 anos…
Então, para não perder o fio da meada… Aquele Suns que me encantou fez a melhor campanha da temporada regular. Aquele Suns foi o campeão da conferência Oeste e chegou às finais. Mas no meio do caminho tinha um Michael Jordan… Tinha um Michael Jordan no meio do caminho…
Antes de falar da inesquecível equipe de 1993 é preciso contar como se deu a formação do elenco que entrou para a história da franquia de Phoenix.
Temporada 1987/88
O ponto de partida será a offseason de 1987. O Suns vinha de campanhas ruins nas duas temporadas anteriores, portanto, sem conseguir a classificação para os playoffs, além de um escândalo envolvendo alguns de seus atletas. O armador Jay Humphries e o pivô James Edwards foram acusados de posse de drogas. Uma das lendas do time, o ala-armador Walter Davis, chegou a ter o seu nome envolvido nas investigações, mas não foi processado. O caso, conhecido como “Waltergate”, manchou a reputação da franquia. A carreira de Davis foi atrapalhada por problemas recorrentes com drogas. Ele chegou a ser internado duas vezes em clínicas de reabilitação para lidar com a dependência de cocaína.
Para piorar o inferno astral do time, em agosto de 1987, o pivô reserva Nick Vanos faleceu em um acidente de avião, aos 24 anos. Com o veterano Alvan Adams perto de se aposentar, e as frequentes lesões de Edwards, Vanos tinha grandes chances de começar a temporada como o titular da posição 5.
No draft daquele ano, o Suns selecionou o ala-pivô Armen Gilliam na segunda escolha geral. O treinador John Wetzel foi contratado para comandar o time, em substituição a Dick Van Arsdale.
Em outubro, a franquia passou a ter um novo dono. Um grupo liderado pelo gerente-geral e vice-presidente de operações de basquete, Jerry Colangelo, adquiriu o Suns junto aos empresários Richard Bloch, Donald Pitt e Don Diamond pela módica quantia de US$44.5 milhões (hoje, a franquia é avaliada em mais de US$1 bilhão). Com isso, Colangelo passou a ter ainda mais poderes e virou o manda-chuva do Suns, o que seria fundamental para a mudança nos rumos da equipe nos próximos anos.
Em fevereiro de 1988, uma negociação importante agitou a franquia. O Suns enviou para o Cleveland Cavaliers a sua principal estrela, o ala-pivô Larry Nance. O ala-armador Mike Sanders e uma escolha de draft também foram incluídos no pacote para o time de Ohio. Em contrapartida, a equipe do Arizona recebeu o pivô Mark West, o ala Tyrone Corbin, três escolhas de draft e um armador novato de 21 anos que entraria para a história da franquia: Kevin Johnson, sétima escolha do recrutamento anterior e que tinha tempo limitado de quadra porque o Cavs já contava com um armador de qualidade, Mark Price. O Suns, que havia iniciado a reconstrução de seu elenco, terminou a temporada na nona posição do Oeste (28 vitórias e 54 derrotas), e, pelo terceiro ano seguido, fora dos playoffs.
Temporada 1988/89
No draft de 88, o time de Phoenix teve direito a duas escolhas Top 15. Na sétima posição, o Suns escolheu o ala-pivô Tim Perry. E na 14ª escolha, que veio na troca com o Cavs citada acima, a equipe do Arizona selecionou o ala-armador Dan Majerle. Na segunda rodada do recrutamento, na posição 50, o Suns escolheu o armador Steve Kerr.
Na offseason daquele ano, o time contratou o ala-pivô Tom Chambers, de 29 anos, que havia feito sucesso no Seattle SuperSonics, sendo escolhido, inclusive para o All-Star Game de 1987. Ao trazer um jogador consolidado na NBA, o Suns deixou clara a intenção de voltar a disputar os playoffs.
Além disso, o veterano Davis (aquele do “Waltergate”) não teve o contrato renovado e deixou a equipe após 11 temporadas. A saída do maior cestinha da história da franquia foi simbólica, pois representou o fim de uma era, em Phoenix, e o começo de outra que daria muitas alegrias aos fãs da equipe.
Para completar, Wetzel foi demitido e, para o seu lugar, o Suns efetivou Cotton Fitzsimmons, então dirigente da equipe, como o treinador principal. O detalhe é que ele havia treinado o time entre 1970 e 1972. Paul Westphal e Lionel Hollins eram os assistentes de Fitzsimmons.
Logo em sua primeira temporada completa em Phoenix, Johnson caiu nas graças da torcida devido às suas atuações espetaculares. Com médias de 20.4 pontos e 12.2 assistências, ele se juntou à dupla Magic Johnson e Isiah Thomas como os únicos atletas a conseguirem médias de pelo menos 20 pontos e 12 assistências na história da NBA.
Chambers, o reforço contratado a “peso de ouro”, foi o outro destaque do Suns em 1988/89. Ele foi o cestinha (25.7) e principal reboteiro (8.4) da equipe.
Com médias de 21.5 pontos, quase sempre vindo do banco de reservas, o ala Eddie Johnson foi outra peça importante para que o Suns fizesse a terceira melhor campanha do Oeste (55 vitórias e 27 derrotas).
Nos playoffs, o Suns passou por Denver Nuggets e Golden State Warriors até chegar às finais de conferência, feito que não alcançava desde 1984. Na decisão do Oeste, o time do Arizona foi “varrido” pelo Los Angeles Lakers de Magic Johnson, Kareem Abdul-Jabbar e James Worthy. O detalhe é que a equipe angelina, ampla favorita no confronto, vinha de dois títulos seguidos.
Mesmo com o resultado final, a temporada de 1988/89 foi um sucesso para o Suns. Kevin Johnson ganhou o prêmio de jogador que mais evoluiu (MIP), Chambers foi selecionado para o All-Star Game, Eddie Johnson foi eleito o melhor reserva e Fitzsimmons o melhor técnico. A reformulação orquestrada por Colangelo começava a dar resultados.
Temporada 1989/90
Sem muito espaço na equipe, Kerr foi negociado com o Cavs, na offseason de 1989. O Suns manteve a base e, novamente, chegou às finais do Oeste, depois de ter feito a quinta melhor campanha (54 vitórias e 28 derrotas). Na primeira rodada, o time de Phoenix superou o Utah Jazz de Karl Malone e John Stockton. Na semifinal de conferência, o adversário era o poderoso Lakers, que havia feito a melhor campanha da temporada regular (63 vitórias e 19 derrotas). Só que, desta vez, o Suns levou a melhor, fechando a série em cinco jogos, mesmo com desvantagem no mando de quadra.
Nas finais do Oeste, o Suns era o azarão mais uma vez. Do outro lado estava o Portland Trail Blazers, que havia feito a terceira melhor campanha do Oeste (59 vitórias e 23 derrotas) e tinha um elenco mais qualificado. Sem muita surpresa, o Blazers foi o campeão da conferência, após seis partidas. Mesmo com mais um “fracasso” nas finais do Oeste, o Suns se consolidava como um contender.
Temporada 1990/91
Na segunda rodada do draft de 1990, o time de Phoenix selecionou o ala Cedric Ceballos, na 48ª posição. No primeiro round, o Suns escolheu o pivô Jayson Williams. Porém, o jogador foi negociado para o Philadelphia 76ers, em troca de uma escolha de primeira rodada do recrutamento de 1994.
O reserva Eddie Johnson foi negociado logo no início da temporada para o Seattle SuperSonics em troca do também ala Xavier McDaniel, que chegou a Phoenix para assumir a condição de titular na posição 3, no lugar do veterano Kurt Rambis, e voltar a atuar com Chambers.
Com a espinha dorsal da equipe mantida, o Suns se manteve no topo e fez a quarta melhor campanha da conferência, com 55 vitórias e 27 derrotas. Só que para a frustração dos fãs da equipe, logo na primeira rodada dos playoffs, o Suns foi eliminado pelo Utah Jazz, em uma série de quatro partidas.
Temporada 1991/92
Na segunda rodada do draft de 1990, o time de Phoenix selecionou o ala Richard Dumas, na 46ª posição. Ele seria integrante do time histórico destacado neste artigo. No entanto, Dumas foi suspenso no primeiro ano de NBA devido ao envolvimento com drogas. Durante esse período, para não ficar parado, o ala atuou em Israel.
Na offseason, o Suns trocou McDaniel com o New York Knicks. O ala teve um desempenho aquém do esperado na temporada anterior e passou a se tornar “dispensável” porque o time de Phoenix tinha, na teoria, Majerle, Ceballos e Dumas para a posição 3.
Com o ala-armador Jeff Hornacek como cestinha (20.1 pontos), Majerle fazendo a melhor temporada da carreira, Johnson mantendo um alto nível de atuações e o veterano Chambers ainda contribuindo no ataque, o Suns fez a quarta melhor campanha do Oeste (53 vitórias e 29 derrotas). Hornacek e Majerle foram selecionados para o All-Star Game, e Ceballos venceu o concurso de enterradas naquele ano.
Nos playoffs, o time de Phoenix “varreu” o San Antonio Spurs na primeira rodada, mas sucumbiu perante o Blazers (dono da melhor campanha da conferência) na segunda rodada, em uma série de cinco partidas. Mais uma vez, o Suns “morreu na praia”.
A histórica temporada de 1992-93
Após quatro temporadas consecutivas com boas campanhas na fase regular, mas sem conquistar ao menos um título de conferência, a direção do Suns fez algumas mudanças para que a equipe pudesse, finalmente, dar o salto tão desejado pela torcida.
Fitzsimmons se aposentou da função de técnico e ganhou um cargo na direção da franquia. O auxiliar Paul Westphal assumiu como treinador principal, e Hollins seguiu como assistente ao lado de Scotty Robertson. Westphal, aliás, foi uma lenda do Suns como jogador, pois ajudou o time a chegar pela primeira vez às finais da NBA, em 1976.
No draft, o Suns selecionou o pivô Oliver Miller, na 22ª escolha.
A partir de 1992, o Suns passou a jogar em um novo palco: a America West Arena. Maior e mais moderna, a nova arena, que custou US$89 milhões, substituiu o Arizona Veterans Memorial Coliseum. Um sonho antigo de Colangelo que havia se tornado realidade.
A offseason de 1992 foi, talvez, a mais importante na história do time de Phoenix. Com planos ambiciosos para a temporada, Colangelo conseguiu um astro de primeira linha para a sua franquia: o ala-pivô Charles Barkley. Na troca fechada com o Philadelphia 76ers, em junho daquele ano, o Suns abriu mão de seu cestinha (Hornacek). No pacote ainda estavam os coadjuvantes Tim Perry e Andrew Lang. Até hoje, essa é considerada a melhor troca da história da franquia.
E na agência livre, o time do Arizona assinou com os veteranos Danny Ainge, bicampeão pelo Boston Celtics, e Frank Johnson, que estava no basquete europeu.
Passado o período de suspensão, Dumas retornou ao Suns naquela temporada. Com média de 15.8 pontos e 4.6 rebotes, o ala ganhou espaço entre os titulares e foi nomeado para o segundo time de novatos da NBA.
O Suns tinha montado um elenco muito forte. Johnson, Majerle, Dumas, Barkley e West formavam o quinteto titular. No banco de reservas, Westphal tinha à sua disposição os experientes Ainge e Chambers, e os jovens Ceballos e Miller como as principais opções.
Barkley era realmente a peça que faltava, a “cereja do bolo”. Em sua primeira temporada em Phoenix, o astro teve um desempenho notável: médias de 25.6 pontos, 12.2 rebotes e 5.1 assistências. Muito em parte graças a ele, o Suns fez a melhor campanha da história da franquia, com 62 vitórias e 20 derrotas (marca que seria igualada pelo time de 2004/05). Não por acaso, Barkley foi escolhido o MVP da temporada.
Em 1992/93, o Suns foi quarto em número de posses de bola por partida (99.8), evidenciando o jogo de transição da equipe, o primeiro em eficiência ofensiva (113.3 pontos anotados por 100 posses de bola) e o nono em eficiência defensiva (106.7 pontos sofridos por 100 posses de bola). Em suma, era um time veloz, dono do melhor ataque e tinha uma defesa TOP 10 da NBA.
O detalhe é que Johnson jogou apenas 49 jogos da temporada regular por conta de uma lesão. Enquanto ele esteve fora, o desconhecido Negele Knight foi o titular, com Ainge vindo do banco e tendo mais minutos em quadra. Mesmo assim, a campanha da equipe não foi afetada. Com Johnson fora, coube a Barkley e a Majerle a função de organizar o ataque do Suns. O camisa 34, além de ser o cestinha, foi o líder em assistências do time enquanto o armador principal esteve afastado. Barkley e Majerle, aliás, foram selecionados para o All-Star Game de 1993.
Phoenix Suns – 1992/93
Time-base: Kevin Johnson (PG), Dan Majerle (SG), Richard Dumas (SF), Charles Barkley (PF), Mark West (C)
Principais reservas: Danny Ainge (PG/SG), Tom Chambers (PF/C), Cedric Ceballos (SG/SF), Oliver Miller (C), Frank Johnson (PG), Negele Knight (PG)
Técnico: Paul Westphal
Jogador | Idade | Pontos | Rebotes | Assistências | Roubos | Tocos | Minutos |
Charles Barkley | 29 | 25.6 | 12.2 | 5.1 | 1.6 | 1.0 | 37.6 |
Dan Majerle | 27 | 16.9 | 4.7 | 3.8 | 1.7 | 0.4 | 39.0 |
Kevin Johnson | 26 | 16.1 | 2.1 | 7.8 | 1.7 | 0.4 | 33.5 |
Richard Dumas | 23 | 15.8 | 4.6 | 1.3 | 1.8 | 0.8 | 27.5 |
Cedric Ceballos | 23 | 12.8 | 5.5 | 1.0 | 0.7 | 0.4 | 21.7 |
Tom Chambers | 33 | 12.2 | 4.7 | 1.4 | 0.6 | 0.3 | 23.6 |
Danny Ainge | 33 | 11.8 | 2.7 | 3.3 | 0.9 | 0.1 | 27.0 |
Negele Knight | 25 | 6.1 | 1.2 | 2.8 | 0.4 | 0.1 | 17.1 |
Oliver Miller | 22 | 5.6 | 4.9 | 2.1 | 0.7 | 1.8 | 19.1 |
Mark West | 32 | 5.3 | 5.6 | 0.4 | 0.2 | 1.3 | 19.0 |
Frank Johnson | 34 | 4.3 | 1.5 | 2.4 | 0.8 | 0.1 | 14.6 |
Nos playoffs, o Suns venceu o Los Angeles Lakers por 3 a 2, na primeira rodada. A equipe de Phoenix levou um susto ao perder os dois primeiros jogos, disputados em casa, mas conseguiu a virada nos três duelos seguintes. Posteriormente, o time do Arizona bateu o San Antonio Spurs de David Robinson por 4 a 2, em uma das semifinais de conferência. Nas finais do Oeste, o Suns venceu o Seattle SuperSonics de Gary Payton e Shawn Kemp, em uma eletrizante série de sete partidas.
Depois de quatro insucessos consecutivos nos playoffs, o Suns, finalmente chegou à decisão da NBA. Dezessete temporadas após ter disputado a sua primeira final. Por ter feito a melhor campanha na fase regular, o time de Phoenix teve a vantagem do mando de quadra nas finais. Na série decisiva, a equipe teve o desfalque do jovem ala Cedric Ceballos, um de seus reservas mais importantes, por conta de uma lesão no joelho angariada no sexto jogo das finais do Oeste. O Suns, tinha reconhecidamente, o melhor plantel da liga.
O adversário na decisão foi o Chicago Bulls, que era “só” o bicampeão da liga. Dona da segunda melhor campanha da conferência Leste, a equipe comandada por Phil Jackson fez uma pós-temporada espetacular, perdendo apenas duas partidas nas três séries que disputou. O astro Michael Jordan, que havia sido o MVP nas duas temporadas anteriores, estava em ponto de bala naqueles playoffs. Aí é que morava o perigo…
Assim como ocorreu na série contra o Lakers, o Suns perdeu as duas primeiras partidas realizadas em Phoenix. No jogo 1, o Bulls limitou o melhor ataque da liga a 92 pontos e a 89 posses de bola. Bem marcado, Barkley anotou 21 pontos, mas acertou apenas nove dos 25 arremessos de quadra que tentou. Jordan e Pippen, além de combinarem para 58 dos 100 pontos da equipe de Chicago, foram essenciais na extremidade defensiva.
Na segunda partida, que não foi travada pelo jogo de meia quadra como a primeira, Jordan e Barkley tiveram atuações épicas. O camisa 23 do Bulls anotou 42 pontos, pegou 12 rebotes e ficou a apenas uma assistência de alcançar o triplo-duplo. Já o astro do Suns anotou 42 pontos e pegou 13 rebotes. Pippen foi peça-chave na vitória do Bulls por 111 a 108. O ala conseguiu o triplo-duplo: 15 pontos, 12 rebotes e 12 assistências, e foi, de longe, o melhor defensor do time na partida.
O roteiro daquelas finais não era o que a torcida do Suns imaginava. Perder os dois primeiros jogos, em casa, foi um duro golpe nas pretensões do time de Phoenix. A vantagem do mando de quadra havia ido para o espaço. O Suns precisaria atuar com um senso de urgência nos próximos três jogos, que seriam disputados em Chicago, para não “morrer na praia” de forma cruel.
O jogo 3 entre Suns e Bulls pode ser considerado um dos melhores da história das finais da NBA. Sem exagero. Após a disputa de três prorrogações, a equipe visitante venceu por 129 a 121 e conseguiu respirar na série. Ao contrário dos jogos anteriores, em que apenas Barkley rendeu no ataque, o Suns contou com uma ótima atuação coletiva: sete jogadores anotaram dez ou mais pontos. Majerle foi o cestinha, com 28 pontos. Em uma época em que os arremessos de longa distância eram raros, o camisa 9 do Suns acertou seis bolas de três pontos. Para não perder o costume, Barkley conseguiu um duplo-duplo: 24 pontos e 19 rebotes. Pelo lado do Bulls, Jordan teve mais um dia daqueles: 44 pontos, nove rebotes e seis assistências.
No jogo 4, o maior jogador de todos os tempos teve uma atuação assombrosa. Em 46 minutos em quadra, Jordan acertou 21 dos 37 arremessos que tentou e anotou 55 pontos. O Suns não conseguiu, mais uma vez, atrapalhar a vida do camisa 23. O triplo-duplo de Barkley (32 pontos, 12 rebotes e dez assistências) não foi suficiente para que o Suns igualasse a série. Resultado: o Bulls venceu o duelo por 111 a 105 e ficou a uma vitória do tricampeonato.
A tarefa do Suns era ingrata. A equipe teria que vencer os próximos três jogos para protagonizar uma virada épica e conquistar o título inédito. Antes de qualquer coisa era preciso ganhar o quinto duelo, aquele que poderia fechar a tampa do caixão do time de Phoenix. Mas como isso seria possível, com Jordan atuando de forma espetacular jogo após jogo? O Suns precisava não apenas do bom desempenho de Barkley, mas do restante da equipe. Foi o que aconteceu na quinta partida da série. Apesar dos 41 pontos anotados por Jordan, o time visitante contou com 74 pontos do trio Barkley, Johnson e Dumas e venceu por 108 a 98. O Suns estava vivo nas finais.
Com duas vitórias em três jogos disputados em Chicago, a esperança da equipe de Phoenix era a de protagonizar a virada histórica nos dois jogos restantes em casa. Mas, obviamente, para forçar a sétima partida, o Suns teria que levar a melhor no jogo 6.
https://www.youtube.com/watch?v=Dz16voEsKOo
O duelo, realizado em 20 de junho de 1993, foi tenso do começo ao fim. O time da casa teve um aproveitamento de apenas 39% nos arremessos, chegou a estar perdendo em grande parte da partida, mas reagiu no último período e deu esperanças à torcida. A pouco mais de dois minutos para o fim, o Suns vencia por 98 a 94. Devido à defesa sufocante do time de Phoenix, o Bulls tinha anotado apenas sete pontos no período (todos marcados por Jordan). A America West Arena pulsava e a torcida já vislumbrava o sétimo jogo da série.
Depois de alguns ataques mal sucedidos, Jordan levou a bola de costa a costa e finalizou uma bandeja, a 38 segundos do final, e a diferença caiu para apenas dois pontos. No ataque seguinte, quando restavam 16 segundos para o fim, Majerle teve a chance de sacramentar a vitória do Suns, mas desperdiçou o arremesso, sozinho, do corner direito.
A quatro segundos do final, o armador reserva John Paxson acertou o arremesso mais importante de sua carreira e que machuca o coração do fã do Suns até hoje. Quando todas as atenções da defesa do time de Phoenix estavam voltadas para Jordan, Paxson recebeu a bola de Horace Grant e, sem marcação, converteu a bola de três pontos.
O Suns ainda teve a posse de bola derradeira e a chance de levar a série para o sétimo jogo. No último segundo, Johnson partiu para o arremesso derradeiro, mas foi bloqueado por Grant, para a frustração da torcida do Arizona. Era o fim do sonho de Phoenix. E o Bulls, de uma forma espetacular, conquistava o terceiro título consecutivo.
Barkley, o MVP da temporada regular, teve médias de 27.3 pontos, 13.0 rebotes e 5.5 assistências nas finais. Já o MVP da decisão, Michael Jordan, brincou na série contra o Suns: 41.0 pontos, 8.5 rebotes e 6.3 assistências. Ele entrou para a história da NBA com dois recordes que até hoje não foram superados: anotou 40 ou mais pontos em quatro jogos seguidos das finais e angariou médias de 41 pontos na série decisiva.
Três coisas ficaram claras naquelas finais: o Suns não jogou o seu melhor basquete (perdeu os três duelos disputados em Phoenix e não conseguiu pontuar nos últimos dois minutos do jogo 6), defesa ganha campeonato e Jordan é um Deus.
O Suns tinha quase tudo para ser campeão. Melhor campanha da temporada regular, mando de quadra nas finais, Barkley eleito MVP, elenco mais profundo. Mas para azar do time do Arizona, do outro lado estava o maior jogador de todos os tempos. Estou para ver uma performance mais espetacular em finais que a de Jordan naquele ano. Há quem diga que a ausência de Ceballos tenha contribuído para a derrota do Suns. Particularmente, acho que não faria diferença se ele estivesse disponível para atuar naquelas finais. A sensação que tenho, hoje, revendo toda aquela série histórica, é que Jordan não perderia a chance de ser tricampeão de forma consecutiva.
O fim de uma era
Nas duas temporadas seguintes, o time de Phoenix, com a mesma base, foi eliminado nas semifinais de conferência pelo Houston Rockets de Hakeem Olajuwon, em duas séries fantásticas de sete jogos. Curiosamente, a equipe texana foi bicampeã naqueles anos.
Essas eliminações representaram o fim da linha para o quarteto Dan Majerle, Danny Ainge, Charles Barkley e Kevin Johnson. Majerle foi o primeiro a sair. Na offseason de 1995, o Thunder Dan foi trocado para o Cavs. Ainge se aposentou das quadras e, no ano seguinte, assumiu o comando técnico do time de Phoenix. Barkley saiu na offseason de 1996, quando foi negociado para o Rockets, em busca do tão sonhado anel de campeão. Não conseguiu. Ele figura na lista dos maiores jogadores da história que não conquistaram um título sequer na NBA.
Johnson foi o último remanescente e permaneceu no Suns até 1998, quando se aposentou das quadras. A equipe daquela temporada teve, além de KJ, outros dois armadores históricos: Jason Kidd e Steve Nash. Dois anos depois da aposentadoria, Johnson retornou ao basquete, justamente para ajudar o time de Phoenix nos playoffs. Ele voltou às quadras após uma lesão de Kidd. Após a eliminação na semifinal de conferência, em uma série de cinco partidas contra o Lakers, KJ se retirou definitivamente do basquete.
Como não poderia deixar de ser, Barkley, Majerle, Chambers e Johnson tiveram suas camisas aposentadas pelo time do Arizona, o que dá uma pequena mostra do talento daquela equipe vice-campeã da NBA. Eternizados na história da franquia, eternizados nos corações de todos os fãs do Suns.
Você sabia que o time de Phoenix é o quarto na NBA em porcentagem de vitórias, atrás apenas de Spurs, Lakers e Celtics? Fundado em 1968, o Suns tem um aproveitamento de 53.9%, com 2.161 vitórias e 1.848 derrotas. Entre 1989 e 1995, a equipe venceu pelo menos 64% de suas partidas na temporada regular. São 29 classificações para os playoffs, nove finais do Oeste e duas decisões da NBA. Tem que respeitar.
Que aquele time histórico sirva de inspiração para o atual elenco e que os dias de glória possam retornar ao Suns!
P.S. Fique ligado. Daqui a duas semanas sai o terceiro artigo da série “Times históricos que não foram campeões”. O homenageado da vez será o New York Knicks de 1994. Não perca! Até lá!
Times históricos que não foram campeões – Portland Trail Blazers (1991)